sexta-feira, 4 de novembro de 2011


Se já não sinto os teus sinais, pode ser da vida acostumar,
Será? Moreno.
Sobre estar só eu sei, nos mares por onde andei,
Devagar, dedicou-se mais o acaso a se esconder,
E agora o amanhã, Cadê?
Dois barcos-Los Hermanos



 Por entre os dedos da minha mão passaram certezas e dúvidas,
Pois no dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sozinho no mundo, sem ter ninguém,
O último homem no dia em que o sol morreu.
O último pôr-do-sol- Lenine 




As paredes rabiscadas assistiam aquela menina; toda ela era intensidade, sorvia vez ou outra um gole de paixão-rasgada tinto, a fumaça do cigarro desenhava uma tempestade que não existia em lugar nenhum da casa a não ser em seu pranto.
A menina desejou que a chuva pudesse esconder as lágrimas, mas não havia chuva e mesmo que houvesse não conseguiria levantar-se da caixa de som que enchia o quarto já sem móvel algum, já era retrato da ausência.
Insuportável vê-la assim tão frágil lutando para desvencilhar-se da descrição perfeita da sua impotência.
Atrás da porta, seu coração antes alimentado por verdades fúcsia e olhares-frase agora não batia.
Tem horas que é imprescindível desligar o coração, este pálido pequenino não entenderia ver o amor ir embora, iria de certo adoecer, o sabor deste momento que fica marcado no paladar é todo insanidade.
Nestas horas agente se pergunta se Deus se esqueceu? Ou tirou férias?
Quando o ônibus partiu algo dentro dela se estilhaçou, algo que nem ela mesma sabe onde fica, a única certeza é de que jamais irá se consertar, mesmo nos reencontros em que agente esbarra com nossos antigos personagens, devolverá este algo-estilhaçado.
Triste endurecer o coração mas é a única saída, endurecer não empalidece só as dores, empalidece também as cores dos sonhos.
Sonho este, moreno que é como estrela cadente. Ser una em teus braços, um dia destes me perder em teus lençóis de águas frescas, e sorrir  na medida em que um dia foi saudade.
Temer fechar os olhos por estar sonhando acordada, viver o sonho, que deliciosamente me despertaria o coração novamente, faria de cada segundo uma moldura de felicidade.
Te quero assim... a fazer ciranda em meu umbigo, a embelezar meus cabelos com as estrelas que alcanço  ao encostar teus lábios nos meus.
Me ensinasse tanto sobre amar no silêncio do teu colo, que tuas partidas anteriores vieram estirpadas de dor.
Lembro a todo instante o sabor de ser tua menina-mulher, me ver nos teus olhos sedentos enquanto eu dançava encantos e véus para enfeitar nosso leito com as brincadeiras da menina e o sentimento da mulher, sentir o encaixe perfeito de nossos corpos.
Te gosto tanto que me completo na tua liberdade, desejo que a vida por estas veredas meio tortas te faça sorrir.
Já que nos perdemos, nestes re-desencontros em que vivemos alguns passados sem desenhar um futuro. Resta então menina, mal traçar linhas tortas a carvão, no mesmo tom que colore seu canto agora, perceber que a trilha sonora desta história desde sempre anunciava seu significado, banhar-se no oceano salgado do teu olhar, enterrar os fantasmas de teus sonhos tão bem cultivados junto ao último pedaço do teu coração, sangrar melancolias até enlouquecer, e andar por aí representando viver. 


Quando olhas-te bem nós olhos meus,
e teu olhar era de adeus,
juro que não acreditei, 
eu te estranhei, me debrucei sobre teu corpo e duvidei.
Atrás da porta-Chico Buarque


I want you, I want you, I want you
I think you know by now
I'll get to you somehow
Until I do I'm telling you so you'll understand
I love you.
Michelle-Beatles

Dedicado a Alessandro Carvalho e Silva













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