terça-feira, 28 de dezembro de 2010

            Uma borboleta amarela?
            Ou uma folha seca
            Que se desprendeu e não quis pousar? 
            Mário Quintana




Ando cansada destas folhas amareladas e secas de outono, que grudam no cabelo, escorrem pela alma e turvam o olhar.
Observo a paisagem através do vidro embaçado pela minha respiração ofegante, e apenas constato reflexos. Por hora, sigo contemplando aquela bela mulher a passear pela praça vazia, seu rosto estonteante, não me impediu de ver a boca hezitante a ensaiar e remoer despedidas, tão amplas, tão desvanecidas, tão superficiais.
Quase consigo sentir o hálito ressentido, vívido ainda entre os teus cabelos; ela traz consigo uma caixa onde guardou o fogo da intensidade com o que viveu até o momento, e que tanto lhe sufocou, sem que ninguém tenha conseguido descobrir o segredo que alimenta tal chama, em busca de se dividir e se completar.
Percebi o momento exato; que se pudesse ser reproduzido, seria o quadro mais belo da desistência; quando ela decidiu reconhecer que tal busca a arruinou, seu andar vacilante denunciava exalando medo, de jamais descobrir se um dia teria alcançado seu sonho infantil.
Enquanto a caixa submergia nas águas correntes e negras daquele rio de lágrimas que escoria entre meus dedos, baixei a cabeça na tentativa de me recompor, e não entendi  ao vasculhar a praça novamente com meu olhar, que ela não estava mais lá, que deixou de existir no seu instante de fraqueza, pois morreu em si e em tudo que a compunha, naquele tecido brilhante e caleidoscópico que a revestia bailarina, pois a retina no reflexo não mais conseguia me encontrar.


       "mesmo quando te ausentas e eu invento
         mil e uma formas de escutar no vento
         o eco das palavras que te digo."
              Torquato da Luz