terça-feira, 26 de julho de 2011



"E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era."
Caio Fernando Abreu




"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo."
Caio Fernando Abreu



Esta não é uma carta de amor; é uma despedida de um "quase amor". Ao escrevê-la pude perceber o quanto o quase é dolorido e venenoso, o quanto ele corrói e despedaça, o quase se forma a partir de várias coisas, mas uma delas e talvez a mais inconformadora é a unilateralidade.
Imaginei você chegar em casa e me encontrando a meia luz na mesa da sala, a garrafa de vodka pela metade, o cigarro no cinzeiro, meu olhar fixo nas folhas que o vento espalhava, trajando uma camisa de banda de rock ou do velho time da escola, óculos de grau no rosto e uma lágrima melancólica.
Ao fundo Janis Joplin embalaria aquele meu momento, e você me daria o espaço do meu momento porque conhecia muito bem os fantasmas que escondo na alma; mas saberia delicadamente como me tirar dele com uma massa feita por você e conversas triviais, faria sua dose e passaria a mão e o olhar sobre os papéis.
Ao acordar iria se deparar com meu rímel e lápis de olho borrados ressaltando a cor do mar dos olhos de Capitú, e eu veria nos teus a certeza.
Um beijo na testa e mais um bom dia, nesse nosso particular infinito em que encontras em mim todas as mulheres que desejas, porquê era eu.
Me admirarias no espelho, e eu fui e sou só tua, num consentimento delirante que me completava e não soubeste.
Por isso te escrevo meu grande amor não vivido, o que cativaste e não viste crescer. As mensagens ainda estão no espelho a provar que foi real.
De vez enquando estou na mesa da sala, a meia luz, e a lágrima está lá.



"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
Antonie de Saint Exupéry




"Ora, há só um modo de escrever a própria essência, é contá-la toda, o bem e o mal."
Machado de Assis

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